A Irrupção Sensível do Divino na Vida do Eleito.

domingo, 1 de agosto de 2010

Ao exaurir os meandros mais complexos do tema: “A Irrupção Sensível do Divino na Vida do Eleito” percebe-se que muitos líderes religiosos chamados pela sociedade como homens de Deus e que se dizem envergados solidamente no assunto e sem anomalia, desenvolvem seus ministérios e causam uma catástrofe na vida do eleito. Sinto-me à vontade neste momento propedêutico do meu ministério e desejo compartilhar com os leitores e simpatizantes do assunto a minha opinião sem qualquer jaça. Pois, nossa vida cristã é um cenário fantástico, empírico, profícuo e não nos falta ânimo e disposição para dar consecução à tarefa assumida publicamente quando somos eleitos.
O lume de nossa vida cristã não é somente filosófico, natural, cultural, normal, imutável e sim um fenômeno que podemos chamar de alteridade. Isto é, sofremos mudanças em nossa relação social, religiosa, institucional, profissional, econômica, psíquica e eclesiástica, pois, percebemos que além de vivermos inexoravelmente nossa vida cristã convivemos também com aspectos axiológicos da instituição chamada igreja. Este aspecto é muito importante na vida do eleito e serve para definirmos as evidências de um chamado de Deus. Isto porque, a medida de valor atribuída a este fato nos dá condições para nos transportar inteiramente para a norma institucionalizada de nossa Igreja ou denominação.
Todos nós sabemos que nas mais genuínas instituições religiosas existem uma atividade valorativa e axiológica orientada hierarquicamente para realizar a ordem e a segurança, paz social na vida comunitária da chamada igreja. Pois bem, nossa vida cristã é um campo espiritual que o Criador estendeu a mão, nos tocou, chamou, elegeu e por um ato de iniciação ou de sagração, antes que tivéssemos saído do ventre de nossas mamães nos separou e consagrou. Está aí a grande diferença do “ser” e do “dever ser”.
O mundo do “ser” é do conhecimento enquanto o mundo do “dever ser” é objeto da ação e institucionalmente, religiosamente, socialmente, politicamente, sociologicamente, eclesiasticamente. A conduta humana não pode prescindir de uma escala de valores a reger os atos e ações do “ser” e do “dever ser”. Alguns estudiosos chamados homens de Deus e pregadores itinerantes chegam a dizer que na medida em que a natureza se mostra insuficiente para satisfazer às necessidades do homem natural que sente falta de abrigo, de instituição, de igreja, de instrumentos e mecanismos de viver com outros seres semelhantes, este homem passa a agir sobre os dados da natureza, por meio dos valores, isto é, necessidades para sua existência social, econômica, sociológica, eclesiástica e institucional. Aí se cria então uma realidade que é produto seu e resultado de sua criatividade. Ou seja, nada divino.
Exaurindo os meandros mais complexos das sagradas escritura levando em conta suas diversas traduções percebe-se que desde o Antigo Testamento o homem criou vários processos de adaptação esforçando-se para a realização dos seus interesses e valores internos e externos. Por este motivo é necessário analisar teorias, interesses individuais egoístas por excelência, coletivos nem sempre muito claros, para poder aceitar a “Irrupção Sensível do Divino na Vida do Eleito”. Os homens da Bíblia, como Moisés, Oséias, Ezequiel, Isaias, Joel, Amós, Salomão, Davi, Elias, Elizeu, Paulo, Pedro, Lucas, João, Matheus, Marcos e tantos outros fizeram história e não estória. Mas, uma coisa me chamou atenção nas sagradas escrituras, estes homens sempre se queixaram de seus sofrimentos e a Deus sempre pediram auxilio, um help, verdadeiros monólogos que em minha opinião se transformaram em diálogos, diálogos que mostram que existem conflitos, angústias , martírios, tentações, dúvidas que não diferem das que temos nos dias atuais. Eu por exemplo, vejo nos conflitos de Jeremias as minhas angústias e as dúvidas da minha própria vocação. Pois, a sorte do discípulo de Cristo é a mesma que a do profeta (Mt 5.12). Assim como, os homens da antiga aliança, também nós , embora em proporções diferentes, andamos tateando na escuridão da fé, enquanto esperamos a plenitude da revelação. As sagradas escrituras mostram que Jeremias o profeta contra a sua vontade e contra a sua inclinação foi homem de conflitos, litígios e contendeu contra todo país por causa do processo que Iahweh moveu contra o seu povo infiel. Sabe-se que o Profeta Jeremias forçosamente se tornou sinal de contradição e objeto de conflito, embora pessoalmente fosse irrepreensível, Jeremias atraiu para si muita hostilidade, todos o amaldiçoaram pois suas pregações e discursos não foram bem recebidas e os círculos diferentes, os sacerdotes, profetas profissionais e a Corte Real o combateram. A palavra do Senhor tornou-se opróbrio, escárnio por muitos dias (20.8). Assim contestado e obrigado a contestar o que ele mais amava, porque ele amava o seu povo mais que qualquer outra coisa, Jeremias, por natureza tão avessa as contendas e tão sensível á contradição, ao conflito com Deus, realiza três perguntas que o levaram para o fundo do poço. A primeira pergunta é: por que é que aos malvados e mal intencionados tudo corre segundo seus desejos e são afortunados os pérfidos traidores, enquanto eu, que nutro bons propósitos a respeito do próximo e procuro servir-vos fielmente, sofro sem cessar ignomínia e perseguição? (12.1) e diz ele: por que a minha dor é interminável e a minha chaga irritada, rebelde a qualquer cura? (15.18). E sobre tudo, “por que saí do seio materno, para ver sofrimento e aflição e consumirem-se os meus dias na desonra”? (20.18).
Entender este roteiro é bem complicado, pois nos dias atuais existe um dolo sobre os eleitos, mas assim como Jeremias passou por momentos sombrios em sua vida cristã e se sentiu iludido, enganado e até abandonado (15.18) L (22.15). Os eleitos dos dias atuais enfrentam as mesmas coisas dentro e fora das igrejas, associações, instituições e outros. Mas graças a palavra podemos verificar que Deus julga as disposições e intenções do coração do homem de Deus e não as atividades valorativas e axiológicas que são orientadas hierarquicamente por denominações, cleros, ministérios, convenções que se opõe a vontade do Deus de Israel.
Tendo em vista, que toda pessoa constrói sua existência em torno de um local, podemos dizer, num sentido metafísico, que o local onde a pessoa vive passa a integrar o próprio sentido de sua personalidade, ou seja, o individuo na igreja, geralmente se apega aos ensinos, doutrinas, dogmas, sofisma, costumes, regra em relação à sociedade e a religião escolhida, tanto por motivos de ordem moral, espiritual e de fé. Aliás, “a fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb11, 1). Faço meu questionamento como fez Jeremias por que tenho também meus conflitos e pergunto ao leitor: “se estamos aqui na terra religiosamente ligados a um ponto geográfico que nos da noção de domicilio denominacional e em determinado estágio dizemos que este ponto é a instituição chamada igreja e esta igreja deveria ser a nossa casa ou lugar de adoração. Como está a nossa personalidade? Sem raízes? Incerta? Irregular? Imprópria? Firmada na rocha? Errante? Transformada? Institucionalizada? Realizando cultos na escuridão da fé?”
Em minha opinião, quem por exceção, não tiver um domicilio denominacional transparente, real, puro, correto e fundamentado nas leis e nas orientações de Deus tem sua vida cristã, social e familiar incerta. Pois o local onde vivemos é o lugar onde plantamos a nossa personalidade e as sagradas escrituras nos diz; “se a terra for boa, florescerá á semente”. Meu ensejo neste texto é mostrar que se sabe que por influência da igreja muitos líderes institucionalizados conseguem colocar ao lado do elemento puramente material da residência um elemento constitutivo, um animus, de teor espiritual que une a pessoa a um local. Portanto, se um ser errante, sem eira nem beira, atingir a plenitude de seu relacionamento sociológico, profissional, moral, familiar e religioso é por que a igreja se destacou. O domicilio denominacional, além do vinculo material, que prende objetivamente o homem natural a determinado local, possui vinculo imaterial, por todos percebidos, que o fixa em um ponto determinado da terra chamado a verdadeira igreja. Se você leitor esta inserido dentro de um cenário como este de domicilio, residência, habitação ou moradia saberá quem és e qual o ensinamento que recebe, qual o seu aprendizado e se verdadeiramente és cidadão da grande nação de Deus. Escute!
No período da renascença, surgiu o desenvolvimento do comércio, que obrigou a circulação de riquezas e tornou o homem um produto do “dever ser”. O que isto tem haver com o seu domicilio denominacional é interessante, pois, podemos correr o risco de perdermos a importância do domicilio denominacional e ficarmos sem habitação definitiva, pois “o dinheiro é a raiz de todos os males” Assim diz as sagradas escrituras.
Sabemos que no mundo antigo o monarquismo dividiu a igreja com tendências filosóficas a respeito do fenômeno da alteridade. Na tentativa de criar vários processos de adaptação o homem se isolou e viveu uma vida eremitica. Olha o perigo!




Márcio Ramalho

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